quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Educomunicação


interação / união entre dois grandes campos do conhecimento: Educação e Comunicação que, juntos, formam uma nova área de investigação e até mesmo de intervenção na sociedade.

Depoimento

Era uma manhã de novembro de 1993. Na sala de aula de uma escola estadual, no Pelourinho, alunos de 6ª série, curiosos e atentos, esperavam as aulas de Português.

Entro na sala. Suas enormes janelas permitiam uma visão panorâmica do Largo do Pelô. Ladeiras em movimento, presença maciça de operários e engenheiros nas ruas, nos becos, nas praças e demais cantos do Centro Histórico. Era tempo de revitalização, de revalorização. O tempo era, mais ainda, de exclusão. Famílias pobres eram banidas das áreas para dar lugar às novas lojas, ao comércio promissor que se instalaria para atender à demanda de turistas que, certamente, seriam conduzidos para a região.

Tempo de revitalização, sem dúvida, de paredes, de telhados, de praças, de casarões seculares. Mas, a escola... Ah! quão desvitalizada, coitada. Faltava quase tudo: papel, livros, material didático e até álcool para reproduções mimeográficas. Sim, o mimeógrafo era o único meio utilizado para reproduzir qualquer texto, teste, prova.

E os alunos? Apenas cadernos para suas anotações mais elementares... Pois bem, já na sala, onde faltava quase tudo, eu trazia uma solução: uma página, apenas uma página de jornal. Saquei da minha pasta o precioso recurso: uma reportagem sobre o Museu de Arte Sacra 1, da Universidade Federal da Bahia, instalado no antigo Convento de Santa Teresa de Ávila.

Transcrevi-o no quadro. Os alunos o copiaram. Fizeram isso sem reclamações, pois o conteúdo da matéria era o que interessava. Um jornal na sala de aula? Isso era surpresa. Após a leitura das benditas informações - benditas por tratarem de obras sacras cuidadosamente preservadas em um templo; benditas, por permitirem àquela turminha a sua primeira leitura de um texto jornalístico - veio o pedido: "Professora, leve a gente até o Museu que você nos possibilitou conhecer pelo jornal. Estamos curiosos para ver como é, nunca entramos em um museu" 2, disse uma aluna.

E assim, não só conduzi o grupo ao templo sagrado das artes, como também passei a utilizar o jornal em todos os projetos de aprendizagem que implemento. A leitura ganha mais sentido quando trata do universo do leitor. Quando ele lê sobre o que não conhece, passa a conhecer. Quando lê sobre o que conhece, sente-se incluído no mundo da informação.


1 http://www.mas.ufba.br/welcome.html

2 Anos mais tarde, a aluna Valdirene tornou-se restauradora de museu, com certificação do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia.

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